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sexta-feira, 18 de junho de 2010

"Vivo, vivíssimo"


Por José Saramago

Intento ser, à minha maneira, um estóico prático, mas a indiferença como condição de felicidade nunca teve lugar na minha vida, e se é certo que procuro obstinadamente o sossego do espírito, certo é também que não me libertei nem pretendo libertar-me das paixões. Trato de habituar-me sem excessivo dramatismo à ideia de que o corpo não só é finível, como de certo modo é já, em cada momento, finito. Que importância tem isso, porém, se cada gesto, cada palavra, cada emoção são capazes de negar, também em cada momento, essa finitude? Em verdade, sinto-me vivo, vivíssimo, quando, por uma razão ou por outra, tenho de falar da morte…

Nada sei...

Nada sei...
Além de que morrerei um dia.
Nada sei...
Além de que o amor existe.
Nada sei...
Além da saudade que sinto.
Nada sei...
Além de que o mal existe.
Nada sei...
Além de que as vezes fico triste.
Nada sei...
Além das possibilidades.
Nada sei...
Além da felicidade.
Nada sei...
É isso...
Só sei que nada sei.
E se este nada for suficiente,
É com ele que vivo cada momento.
Apenas na certeza de que...
Nada sei...