Ela acordou naquela manhã de outono decidida a entender o rumo que sua vida havia tomado, vestiu-se e saiu como se o lugar algum fosse seu único destino. Lembrava-se do último inverno, e como este lhe foi dolorido. Dor com certeza foi o que sentiu naquela noite fria e chuvosa de inverno, quando aquele que seria seu marido resolveu abandoná-la as vésperas do casamento, dizendo-lhe “não estar pronto” para cuidar de uma família. Não pôde entender muito bem os motivos de tal indecisão, mas acatou sua vontade, deixou-o ir sem lágrimas, adeus, ou tentativas de reconciliação, simplesmente disse: - seja feliz! Sem olhar para trás partiu. Ela ficou triste, nunca imaginou que isso aconteceria, eles – feitos um para o outro, como Romeu e Julieta, como queijo e goiabada.
Ela - a mais linda, que despertava ciúmes, invejas. Era inteligente, possuía o dom da fala, da persuasão pela palavra.
Ele – Era bonito, educado, gentil, não despertava grandes paixões, mas eles se completavam. Não era de falar muito, bem verdade que quando falava, até se atrapalhava com as palavras.
E nessa completude viveram um relacionamento “perfeito” aos olhos dos amigos, familiares, invejosos, desejosos, afetuosos e também religiosos, eram eles uma só alma, divididos em dois corpos.
Naquele inverno, planejavam viagens, passeios, noites românticas e o casamento futuro. Mas como se uma nuvem carregada tivesse os rondando, ele ao abrir seus lábios aquela noite, disse um sonoro “Estou confuso”. Ela o olhou profundamente nos olhos, respirou, e o chamou pra sair. Ela nada falou durante toda a caminhada, apenas pensava – ela a dona da fala, calada, que ironia. Em certo ponto disse-lhe que ele podia tomar seu caminho, ela tomaria o dela, os caminhos deles já não era um só. A tempestade havia começado.
Discutiram, não sabiam o que queriam, ou sabiam tão bem que nenhum queria abrir mão de seu “bem”. Depois de dado momento, ela decidiu por fim a tudo e partiu. Mal sabia ela que no dia seguinte o procuraria, sem o encontrar. Passou horas no banco frio e impessoal da praça próxima a casa dele a esperá-lo. Neste tempo pode por seus pensamentos desordenados enfim, em ordem, queria ele. Queria que ficassem juntos, este era o certo. Seus destinos traçados na maternidade, escrito nas estrelas. Esperou, Rasbicou seus nomes em papel invisível, Afrodite e Narciso, ambos belos, ambos deuses, ambos mitos.
Levantou-se e foi embora, Narciso e Afrodite, deuses predestinados por Zeus a viver um amor mítico.
Agora lá estava ela, em pleno outono, em sua praça preferida, via a folhas caírem, os casais passarem, as crianças sorrirem. Ela tentou se lembrar de coisas banais, mas nada fazia sentido.
Agora tinha certeza seu amor, não passou de um mito.