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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Tantas Galáxias

sex, 3 jan 2020
Então, você vem e Pergunta:
Qual galáxia preciso atravessar para conseguir te beijar?
Diz que se falar com certeza não irá hesitar.
Você pode atravessar a Galáxia de Andrômeda e comigo sonhar, mas não vai me encontrar...
Passar pela Galáxia do triângulo só pra ter e ver meu sorriso, ainda assim não estarei contigo.
Viajar para a Galáxia do Girassol e te me trazer uma lembrança, quem sabe assim pensaria mais em ti, ou ao menoS saberia que existe.
Pode ir a Galáxias Pequena Nuvem de Magalhães , e a Grande também só para garantir Que ao me ter estará com os pés no chá, só pra ter certeza que me dá tesão.
Eita, se preciso for pra se fazer notar, podes ir a Galáxia dos Fogos de Artifício e desenhar o meu sorriso.
Ah... Se você quiser... pode atravessar a Galáxia do Escultor, e pedir por favor que façam uma escultura do meu corpo, do seu corpo, do nossos corpos unidos em um ato de amor.
Se você gostar podes ir a Galáxia da Ursa Maior só para não me deixar só.
Se for pra me levar, leve-me a galáxia Anã da Fênix e lá podemos ver nossa paixão queimar e renascer das cinzas sempre jovem , cada vez mais quente.
Se for por prazer, podemos juntos atravessar a Galáxia do Olho Negro, sem temor, sem medo só pra acalmar nosso desejo.
Se for pra ganhar um beijo talvez tenha de ir a Galáxia do Redemoinho e enfrentar todos os desafios.
Ah, se for pra me excitar acho que precisa ir a Galáxia Centaurus A.
Se for para seguir meu ritmo, podes ir a Galáxia do Compasso, assim talvez sempre estaremos na mesma sintonia.
Se for preciso mais alguma galáxia atravessar, atravesse a Galáxia do Cata-Vento e provavelmente irei te notar.
Mas se você quiser correndo voltar a Via Láctea só para poder me beijar, só pra me excitar e dar prazer, será bem vindo ao meu recôndito escondido, será bem vindo a minha pequena galáxia de paraíso, a minha pequena galáxia de prazer e satisfação.
Mas se nada disso adiantar pode se mudar a para a Galáxia do Bode, talvez eu também esteja lá...
Talvez eu tenha caido também no esquecido...

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Pensamentos noturnos


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Às vezes me sinto só, outras vezes perdida.
Algumas vezes não sei como agir.
Inúmeras vezes faço o que posso e tantas outras o que não posso.
Sei que não sou perfeita, mas vivo tentando fazer o meu melhor,
talvez isso soe engraçado, por que a impressão que tenho é que sempre faço o pior,
a impressão que tenho é que meu melhor não é o bastante.
Às vezes tenho medo, outras sou corajosa demais,
o problema é que minha coragem vive imbricada de temores.
Tantas vezes crio coisas fantásticas em minha mente,
fantásticas demais para serem exploradas ou expostas.
Possivelmente são como eu,
insistem em viver ocultos, não é que não existam ou não sejam importantes,
A verdade é que não queremos incomodar, então, melhor manter-nos nas sombras, às escondidas.
Na esperança de um dia podermos brilhar à luz do sol, na esperança de um dia nos fazer conhecer como verdadeiramente somos, na esperança de que um dia reconheçam nosso valor!

Mas tudo bem, a vida é inconstante, eu sou inconstante; está é a parte boa, nenhuma dessas sensações são permanentes! Nada é permanente!

sábado, 2 de março de 2013

Aula de Canto


O noivado aconteceu de forma inesperada e fora a maior surpresa para todo o mundo saber que ela tinha ficado noiva. A professora de ciências, no inicio, nem acreditou. Mas ninguém se surpreendera tanto quando ela mesma. Tinha trinta anos. Basil vinte e cinco. Foi um milagre, simplesmente um milagre, ouvi-lo dizer quando voltavam da igreja naquela noite escura:
- Olhe, não sei bem como, mas me apaixonei por você. E ele agarrou a ponta da sua estola de plumas de avestruz.
Ele era muito dedicado, outro dia escrevera-lhe uma carta todinha sobre uma estante de carvalho que ele havia comprado para os “nossos” livros e sobre uma “linda chapeleirazinha” para o hall, que ele tinha visto, “uma graça, com uma coruja esculpida no cabide, segurando em suas garras três escovas de chapéu”. Ela rira tanto com aquilo! Só mesmo um homem pra achar que alguém precisa de três escovas de chapéu!
Da última vez que veio vê-la, Basil trazia uma rosa na lapela. Como ficava bonito com aquele terno azul-claro e aquela rosa vermelho-escura! E ele sabia que ficava. Não podia deixar de saber. Primeiro, ele passou a mão nos cabelos; depois alisou o bigodinho. Seus dentes brilharam quando ele sorriu. Iria jantar com a mulher do diretor da escola.
- A mulher do diretor da escola está sempre me convidando para jantar. É uma chatice. Nunca tenho uma noite para mim, naquele lugar. Reclamou.
- E você não pode recusar o convite?
- Ora, não fica bem, para uma pessoa da minha posição, ser anti-social.
Ela o compreendia. Até a noite anterior, quando ele enviou-lhe uma carta rompendo o noivado. Ela havia sido apunhalada no coração por aquela carta...
“... Sinto cada vez mais fortemente que o nosso casamento seria um erro. Não é que eu não te ame. Eu te amo tanto quanto sou capaz de amar uma mulher. Mas, para dizer a verdade, cheguei à conclusão de que não fui feito para me casar e a ideia de constituir família me dá nada mais, nada menos que...” A palavra “aversão” estava levemente riscada e, acima dela, ele escrevera – “pesar”.
Não podia compreender aquela atitude, seu coração estava dilacerado, mas precisava ir ao trabalho. Pôs a roupa mais sombria do seu guarda roupa, seu humor estava negro.
Com o desespero – um desespero rude, lancinante – cravado no fundo do coração, como um punhal cruel. Miss Meadows, de barrete e toga, batuta na mão, caminhava pelos frios corredores que levavam à sala de música. Meninas de todas as idades, coradas com o ar gelado e cheias daquela alegre excitação que dá ir à escola numa bela manhã de outono, corriam, davam pulos, numa grande agitação. Das salas de aula vinha um zunido ligeiro e abafado de vozes. Soou uma sineta, uma voz parecendo um pio de passarinho gritou:
- Muriel!
De repente, veio das escadas um barulhão de alguma coisa indo ao chão. Uma das meninas havia deixado cair os alteres.
A professora de ciências deteve Miss Meadows.
- Bom di-i-a – exclamou com a sua voz melosa e afetada, sempre arrastada. – Que frio, hem? Até parece o i-in-verno.
Miss Meadows, apertando o punhal da dor, fitou com ódio a professora de Ciências. Tudo nela era meloso, descorado como mel. A gente não se espantaria nada se visse uma abelha ser pega no emaralhado daqueles seus cabelos louros.
- Está um gelo – replicou Miss Meadows secamente.
A outra sorriuo seu sorriso açucarado.
- Você parece estar ge-e-lada – disse.
Os olhos azuis se arregalaram. Um brilho zombeteiro bruxuleou neles. ( Será qie ela percebeu alguma coisa?)
- Ora, também não é tanto assim – tornou Miss Meadows, retribuindo o sorriso da professora de Ciências com uma breve careta e seguindo o seu caminho...
O quarto, o quinto e o sexto anos estavam reunidos na sala de música. Faziam uma algazarra ensurdecedora. No estrado, junto do piano, Mary Beazley a preferida de Miss Meadows, que tocava os acompanhamentos, estava ajustando o banquinho. Ao ver Miss Meadows, gritou um “Psiu, meninas!”, para avisar as outras. Miss Meadows, mãos enfiadas nas mangas, a batuta debaixo do braço, atravessou a sala a passos largos pelo corredor entre carteiras, subiu os degraus do estrado, virou-se bruscamente, pegou a estante de música, fincou-a diante de si, deu duas batidinhas secas a pedir silêncio.
- Silêncio, por favor! Imediatamente!
Sem encarar ninguém, seus olhos percorreram aquele mar de blusas de flanela coloridas, de caras e mãos rosadas e irrequietas, de laços parecidos com borboletas no cabelo e livros de música abertos, que se agitavam. Ela sabia perfeitamente o que estavam pensando: “A Meady está uma fera!!” Que pensem! Suas pálpebras estremeceram. Levantou agressivamente a cabeça, desafiando-as. Que importância poderia ter os pensamentos daquelas criaturas para alguém que estava ali, esvaindo-se em sangue, apunhalada no coração – no coração! – por aquela carta...
Basil! Miss Meadows aproximou-se lentamente do piano. E Mary Beazley, que estava esperando aquele momento, inclinou-se para a frente. Seus cabelos cacheados caíram sobre o seu rosto, enquanto ela murmurava um “bom dia, Miss Meadows”, E se curvou, estendendo à professora um lindo crisântemo amarelo. Esse pequeno ritual da flor vinha sendo repetido há tempos, pelos menos um ano letivo e meio. Fazia tanto parte da aula, quanto abrir o piano. Mas, naquela manhã, em vez de pegar a flor em vez de enfiá-la no cinto inclinando-se para Mary e dizendo “Obrigada, Mary, que linda! Abram na página trinta e dois”, qual não foi o horror de Mary quando Miss Meadows  ignorou totalmente o crisântemo, não respondeu ao seu cumprimento e disse com uma voz glacial:
- Página catorze, por favor. Marquem bem os acentos.
Terríveis minutos! Mary corou a ponto das lágrimas encherem seus olhos, mas Miss Meadows voltara para junto da estante. A voz dela retiniu na sala.
- Página catorze. Vamos começar pela página catorze. “Um lamento” A esta altura, vocês já devem estar cansadas de sabê-la. Cantem com uma simplicidade, batendo o compasso com a mão esquerda.
Ergueu a batuta. Deu duas batidas na estante. Mary atacou o acorde inicial, todas as mãos esquerdas começaram a agitar-se no ar e as vozes juvenis e melancólicas ressoaram em uníssono:
Logo! Oh, as rosas do prazer logo fenecem!
Já cede o outono à tristeza da invernia.
Logo! Logo ao atento ouvido se esvaneceram,
As notas breves da alegre melodia.
Meu Deus, haveria coisa mais trágica do que aquele lamento? Cada nota erfa um suspiro, um soluço, um gemido terrivelmente triste. Miss Meadows, levantando os braços na larga toga, principiou a reger com as duas mãos. E a lembrança da carta surgia “...Sinto cada vez mais fortemente que o nosso casamento seria um erro...” ela marcou o compasso. E as vozes gritaram: Logo! Logo ao atento ouvido. Que será que dera nele para escrever uma carta assim? O que poderia ter levado Basil a escrever aquela carta? Não dava para entender.
- Mais uma vez! – disse Miss Meadows. – Dessa vez, com todas as vozes. Sem expressão ainda.
Logo! Oh, as rosas do prazer. Com a voz melancólica dos contraltos entrando, ninguém podia deixar de se arrepiar. Logo fenecem! As breves notas da alegre melodia, gemeram as vozes. Do outro lado das janelas altas e estreitas, os salgueiros balançavam ao vento. Tinham perdido quase todas as folhas. As poucas que ainda não haviam  caído debatiam-se como peixes fisgados num anzol. “... Não fui feito para me casar...” As vozes estava caladas, o piano esperando.
- Muito bem – disse Miss Meadows, mas ainda num tom esquisito, tão ríspido, que as meninas mais moças ficaram com medo mesmo.
- Agora que já sabemos, vamos cantar com expressão. O máximo de expressão que vocês puderem. Pensem na letra, meninas! Usem a imaginação! Logo! Oh, as rosas do prazer fenecem – berrou Miss Meadows. – Isso tem de sair como um lamento, um lamento alto, fortíssimo. Depois, no segundo verso, a tristeza da invernia, façam tristeza soar como se um vento frio estivesse soprando através dela. Triste-e-za! – fez ela, com uma voz medonha, que Mary Beazley, sentada no banquinho do piano, sentiu um calafrio na espinha...
- O terceiro verso deve ir num crescendo. Logo! Logo ao atento ouvido. Que se interrompe na primeira palavra do último verso: as breves. E na palavra notas vocês devem começar a morrer... a decrescer... até que alegre melodia não seja mais que um ligeiro sussurro... Podem diminuir o andamento à vontade no último verso. Atenção!
Outra vez duas pancadinhas na estante. Outra vez ergueu os braços. Logo! Oh, as rosas. “... e a ideia de constituir família me dá nada mais, nada menos que aversão...” Aversão, era  o que ele tinha escrito! Era a mesma coisa que dizer que o noivado deles estava definitivamente desmanchado. Desmanchado! O noivado deles!
- Repitam! Repitam! – ordenou Miss Meadows. – Mais expressão, meninas! Mais uma vez!
Logo! Oh, as rosas do prazer logo fenecem! As meninas mais velhas eatvam vermelhas; algumas mais moças puseram-se a chorar. Grossos pingos de chuva batiam nas janelas, e podiam-se ouvir os salgueiros murmurando: “...não é que eu não te ame...”
- Mas, querido, se você me ama – pensava Miss Meadows -, para mim não tem a menor importância quanto. Me ame só um pouquinho até, se você quiser.”
Ms ela sabia que Basil não a amava. A ponto de sequer ter-se dado ao trabalho de riscar aquela palavra “aversão” de maneira que ela não a pudesse ler. Já cede o outono à tristeza da invernia. Ela ia ter que sair da escola, também. Nunca mais poderia encarar a professora de Ciências ou as suas alunas, quando todos ficassem sabendo. Ia ter que fugir para algum lugar. Se esvanecem. As vozes começavam a morrer, a se esvanecer, a não ser mais que um sussurro... a sumir...
De repente, a porta de abriu. Uma garotinha de azul adiantou-se nervosamente entre as carteiras, de cabeça baixa, mordendo os lábios e girando a pulseira de prata no pulsinho rosado. Subiu os degraus do estrado e parou diante de Miss Meadows.
- Que foi, Mônica?
- Dá licença, Miss Meadows – disse a garotinha, ofegante. – Miss Wyatt pediu que a senhora vá até  diretoria.
- Está bem – respondeu Miss Meadows. E pediu às meninas: - Prometam-me que falarão em voz baixa enquanto eu estiver ausente.
Elas estavam prostradas demais para fazer outra coisa. A maioria delas, com o nariz fungando.
Nos corredores silenciosos e vazios, ecoavam os passos de Miss Meadows. A diretora estava sentada à sua mesa. Demorou um pouco paraà sua mesa. Demorou um pouco para erguer os olhos. Como sempre, tentava soltar os óculos, que tinham ficado presos na sua gravata rendada.
- Sente-se, Miss Meadows – disse ela delicadamente. Pegou em seguida um envelope cor-de-rosa no seu mata-borrão. – Mandei chama-la, por que acabou de chegar este telegrama para a senhora.
- Um telegrama para mim, Miss Wyatt?
Basil se suicidou!, pensou Miss Meadows. A mão dela precipitou-se para o telegrama, mas Miss Wyatt reteve-o ainda um momento.
- Espero que não sejam más notícias – disse ela, não mais que delicadamente.
Miss Meadows abriu o telegrama.
“Não dê bola a carta devia estar maluco. Comprei a chapeleira hoje. – Basil”, leu ela. Não conseguia desgrudar os olhos do telegrama.
- Espero que não seja nada grave – disse Miss Wyatt, inclinando-se para a frente.
- Não, não, obrigada, Miss Wyatt – enrubesceu Miss Meadows. – Não é nada grave. É... – e ela deu um risinho de desculpa – é do meu noivo, dizendo que ... dizendo que...
Houve uma pausa.
- Sei, sei – disse Miss Wyatt.
Outra pausa. Depois:
- A senhora tem mais quinze minutos de aula, não é mesmo, Miss Meadows?
- É sim, senhora.
Ela levantou-se. Quase correu para a porta.
- Um minutinho, por favor, Miss Meadows – disse Miss Wyatt. – Queria lhe dizer que não gosto que minhas professoras recebem telegramas nas horas de aula, a não ser em casos extremamente graves: morte, um acidente, coisa assim – explicou Miss Wyatt. – As boas notícias, Miss Meadows, sempre podem esperar, a senhora sabe.
Nas asas da esperança, do amor, da alegria, Miss Meadows voou de volta para a sala de música, atravessou-a, subiu no estrado, foi para junto do piano.
- Página trinta e dois, Mary – disse. – Página trinta e dois.
E, pegando o crisântemo amarelo, aproximou-o dos lábios para ocultar o sorriso. Voltou-se, então, para as alunas, bateu vivamente com a batuta:
- Página trinta e dois, meninas! Página Trinta e dois!
Trouxemos hoje braçadas de flores
E cestas de frutas, e fitas também,
Para felicitar...
- Parem! Parem! – exclamou Miss Meadows. – Está horrível! Está pavoroso! – deu um sorriso radiante para as alunas. – O que é que há com vocês? Pensem, meninas, pensem no que vocês estão cantando! Usem a imaginação. Braçadas de flores. E cestas de frutas, e fitas também. E felicitar. – Miss Meadows parou. – Não façam estas caras de enterro, meninas! Esta música tem de soar calorosa, cheia de alegria, viva. Felicitar. Mais uma vez. Andem. Todas juntas. Vamos!
Desta vez, a voz de Miss Meadows cobriu as outras – cheia, profunda, ardente, expressiva.
A tempestade havia passado.

Inspirado no conto Aula de Canto. 

A MORTE ANUNCIADA



Em um desses hotéis de luxo, de compridos corredores onde o sol não entra e as paredes são cobertas por quadros, onde o vento de fora luta conta às portas de vidro, que dão para grandes varandas com vista para o mar. Onde é tudo perfeitamente impessoal, tido como local de descanso e abandono. Nestes hotéis, onde os funcionários são polidamente educados e discretos.
Em um destes hotéis, no centro de RECIFE, havia se hospedado um casal e seu filho, uma criança com apenas 10 meses, tida pelo casal como alguém que precisava deles, por isso o haviam levado.
O homem reconhecido lutador de boxe, parecia calmo e feliz. Sua esposa solícita e dedicada. Um casal apaixonado. Aos olhos de quem os observavam, viviam uma constante lua de mel.
Porém, caro leitor, este conto não se trata de um conto de amor, pois sei bem que andas cansado dessas novelas melosas, com finais sempre felizes, donzelas indefesas e heróis a espreita. Mas voltemos a nossa história, essa história verídica e inconclusa.
Na terceira manhã do casal no hotel, que já lhes foi apresentado, a esposa do boxeador com toda a cautela e solicitude que lhe é própria, disca o numero de emergência. E lhes pergunto: O que poderia ter acontecido? Será que o filho do casal havia se engasgado com algo? Ou mesmo caído de sua caminha? Será que o marido da distinta senhora havia passado mal? Poderia ter sido isto, pois o jantar havia sido farto e ele havia bebido um pouco além que de costume. Mas voltemos aos reais acontecimentos.
Os paramédicos chegam ao quarto do hotel, vão correndo ao local indicado pela senhora, colocam-se ao lado do paciente à examina-lo.
-  Senhora. Diz um deles. - Seu marido está MORTO. Infelizmente não há mais nada a ser feito.
E neste momento de puro desespero a distinta senhora atira-se sobre o corpo de seu amado esposo, perguntando-se como aquilo havia acontecido.
- Senhora, a senhora deve se afastar. Devemos aguardar os peritos. Recomenda um dos paramédicos.
A policia e os peritos não tardaram a chegar ao local. Perícia feita, corpo liberado para ser encaminhado ao Instituto Médico Legal.
Agora os policiais investigativos, iniciam sua investigação, interrogatórios e logo devem encontrar possíveis resoluções para o caso.
Na noite anterior, o casal havia estado em um famoso restaurante da cidade turística, os policiais interrogaram os funcionários do local.
Os funcionários disseram que o casal jantou com seu filho, que o boxeador bebeu um pouco a mais e ao sair do restaurante o casal teria tido uma pequena discussão, não se sabe se por ciúme ou desconfiança. Os funcionários foram unanimes em seus depoimentos. Depois da discussão a senhora Huck, saiu caminhando sem esperar o esposo.
Passantes disseram que o senhor Huck, deu algumas voltas no bairro procurando a esposa, não a teria encontrado e então voltou ao hotel.
Os funcionários do Hotel disseram em seus depoimentos que não perceberam nada, e não viram nada que justificasse o suicídio do boxeador, tendo em vista sua tranquilidade aparente.
O depoimento crucial seria o da esposa dedicada. Segundo a senhora Huck, após a discussão voltou ao hotel e esperou o marido, depois subiu para o quarto e dormiu, ao acordar na manha seguinte encontrou seu esposo caído e como foi dito morto.
Os agentes policiais investigativos deram por encerrada a investigação, alegaram que o boxeador havia de fato se suicidado. Descartam a possibilidade de assassinato, e a culpa da esposa, tendo em vista que esta chamou ajuda e aguardou os policiais com a devida tranquilidade.
Caro leitor, não vos me apresentarei como um Sherlock Homes, apenas digo-lhes que sou um curioso, um observador minucioso das ações humanas.
Voltemos um pouco ao contexto, um boxeador morto, em um hotel onde estava de férias com a “família”.
O que levaria um homem “forte”, de alma nobre suicidar-se? Uma discussão com a esposa? Um pouco de álcool no organismo?
Observemos o local do ocorrido, o apartamento de dois andares, embaixo a sala, um bar, uma varanda, em cima o quarto e banheiro, uma pequena escada dá para o segundo andar, foi encontrado no local a alça de uma bolsa, que teria sido usada pera o suicídio, ele teria posto a alça da bolsa em seu pescoço e se pendurando na escada, assim, enforcou-se. O corpo foi encontrado embaixo da escada.
Eu estive no local, mas não nos apressemos, logo lhe direi minhas conclusões. Antes de dar por encerrado o “mistério”, quero informa-lhe que entrei em contato com a família do “suicida”, a mãe afirma que ele não sofria de nenhum distúrbio, não apresentava nenhum sinal de depressão, estava em plena felicidade.
Os familiares do boxeador acusam a dedicada esposa, os indícios: ele havia mudado seu comportamento, após o casamento, o boxeador teria ainda mudado seu testamento recentemente declarando como únicos beneficiários sua esposa e seu filho mais novo, excluindo sua filha de outro relacionamento e está sob os cuidados da mãe do boxeador, no Canadá.
E vos pergunto atento leitor, Seria este mais um crime por herança? Teria sido esta mais uma morte anunciada?

terça-feira, 17 de abril de 2012

O encontro

Ela abriu os olhos e ainda não tinha noção do lugar que

estava.

“Que dia é hoje?” – Pensou.  

Dia 02/11Dia de finados.
Lembrou.
Alguma coisa a levava, ela
não podia ir contra a
 correnteza, também não
tinha forças para tal
empreitada.
“Será que estou morta?” – Pensou. – “Não, ninguém
morre no dia de finados, no dia dos mortos faz-se
homenagem a estes. “Deixa isso pra lá.”
Naquele dia 02, lembrava-se de ter acordado relativamente
cedo, ainda na sua cama podia ver o lado de fora, o dia
 estava chuvoso, o céu em tons de cinza e alaranjado.
 Adorava a chuva, o barulho, a cor que o céu ficava, a
 calmaria da rua, era tudo fantasticamente bonito e
 melancólico.

Demorou a levantar-se da cama, ficou ali, a admirar a chuva,
 a chuva que tudo lava. E sentiu que aquela chuva lavava
 também as dores que estavam dentro de si.
Espreguiçou-se e levantou, deu bom dia a sua mãe, realizou
 sua rotina matinal, após o café da manhã, tinha muitas
 coisas a resolver.
O dia foi atarefado e passou rápido.
À noite, havia previsto sair com uns amigos, mas a chuva as
 6h da tarde que mais parecia um diluvio, não permitiu.
Foi para o seu quarto, decidiu ler um pouco, estava lendo
 Kafka – A metamorfose, e lá estava ela se

metamorfoseando.
Não se lembrava o que houve depois, deve ter pegado no
sono e estar sonhando...
De repente viu outros corpos serem levados, como o dela,
parecia estar em um rio de almas, todos ali tranquilos,
esperando sua sorte.
Ela estava sonhando, disso não tinha duvidas, estava tendo
 uma experiência de morte, mas ainda assim, sonhando.
Tudo parou rapidamente, os corpos pararam de se mover,
ela parou de pensar, o tempo parou, ficou tudo congelado.
Alice podia ver agora dois anjos, os dois eram bonitos e
transmitiam uma paz que ela nunca imaginou ser possível
existir, ao redor deles a áurea brilhava e iluminava todo o
 lugar.
Estavam conversando, pareciam decidir algo e de fato
decidiam, decidiam o destino de todos ali.
Não sabia que era assim, todas as noites do dia 02 de
 novembro, todas as almas iam até o rio das almas e lá os
 anjos decidiam seus destinos. Alguns não voltavam mais,
 outros voltavam e voltavam todos os dias por muitos anos,
 alguns voltavam a vida ainda para terminar algo, mas o anjo
 da morte não lhes dava muito tempo, outros tinham o dia,
 hora, local, modo de morte já definido e os anjos não se
incomodavam e trazê-los novamente até que chegasse o dia
do encontro real.
Ela havia tido aquele sonho algumas vezes durante seus 25
 anos de vida, mas só hoje havia descoberto do que se
 tratava, seria isso bom?
Ficou ali, o tempo parado, apenas os anjos se moviam e
 falavam, pôde ver umas poucas almas se juntarem aos
 anjos, antes de despertar ás 7h da manhã, totalmente
 relaxada, a vida continuava.
Apesar do sonho estava bem, a noite havia sido de reposição
 de energias.
Dois anos se passaram, as decepções continuaram, os dias
 passavam como tinham de passar, mas todos os dias
 esperava alguém que não conhecia, alguém que não sabia
 quem era.
Estava nas férias de dezembro, viajou, aquele ano queria
 passar todos os dias na praia, algo lhe dizia que lá
 encontraria o que há anos esperava.
Passeava pela praia quando decidiu dar um mergulho, o mar
 sempre se apresentava como algo fantástico, ao mesmo
 tempo calmo e revolto.
Não se deu conta do quanto estava longe, e agora olhando
 para a praia, a volta parecia difícil, ficou ali deixando-se levar
 pela maré. Parecia um sonho, lembrou-se do sonho do dia
 de finados à dois anos atrás, que bom era deixar-se levar
pela correnteza, fechou os olhos. E ao encontrar aquele que
 ela esperou a vida inteira, deram-se as mãos e partiram.

domingo, 20 de novembro de 2011

Amor Mítico

 Ela acordou naquela manhã de outono decidida a entender o rumo que sua vida havia tomado, vestiu-se e saiu como se o lugar algum fosse seu único destino. Lembrava-se do último inverno, e como este lhe foi dolorido. Dor com certeza foi o que sentiu naquela noite fria e chuvosa de inverno, quando aquele que seria seu marido resolveu abandoná-la as vésperas do casamento, dizendo-lhe “não estar pronto” para cuidar de uma família. Não pôde entender muito bem os motivos de tal indecisão, mas acatou sua vontade, deixou-o ir sem lágrimas, adeus, ou tentativas de reconciliação, simplesmente disse: - seja feliz! Sem olhar para trás partiu. Ela ficou triste, nunca imaginou que isso aconteceria, eles – feitos um para o outro, como Romeu e Julieta, como queijo e goiabada.

Ela - a mais linda, que despertava ciúmes, invejas. Era inteligente, possuía o dom da fala, da persuasão pela palavra.

Ele – Era bonito, educado, gentil, não despertava grandes paixões, mas eles se completavam. Não era de falar muito, bem verdade que quando falava, até se atrapalhava com as palavras.

 E nessa completude viveram um relacionamento “perfeito” aos olhos dos amigos, familiares, invejosos, desejosos, afetuosos e também religiosos, eram eles uma só alma, divididos em dois corpos.

Naquele inverno, planejavam viagens, passeios, noites românticas e o casamento futuro. Mas como se uma nuvem carregada tivesse os rondando, ele ao abrir seus lábios aquela noite, disse um sonoro “Estou confuso”. Ela o olhou profundamente nos olhos, respirou, e o chamou pra sair. Ela nada falou durante toda a caminhada, apenas pensava – ela a dona da fala, calada, que ironia. Em certo ponto disse-lhe que ele podia tomar seu caminho, ela tomaria o dela, os caminhos deles já não era um só. A tempestade havia começado.

Discutiram, não sabiam o que queriam, ou sabiam tão bem que nenhum queria abrir mão de seu “bem”. Depois de dado momento, ela decidiu por fim a tudo e partiu. Mal sabia ela que no dia seguinte o procuraria, sem o encontrar. Passou horas no banco frio e impessoal da praça próxima a casa dele a esperá-lo. Neste tempo pode por seus pensamentos desordenados enfim, em ordem, queria ele. Queria que ficassem juntos, este era o certo. Seus destinos traçados na maternidade, escrito nas estrelas. Esperou, Rasbicou seus nomes em papel invisível, Afrodite e Narciso, ambos belos, ambos deuses, ambos mitos.  

Levantou-se e foi embora, Narciso e Afrodite, deuses predestinados por Zeus a viver um amor mítico.

Agora lá estava ela, em pleno outono, em sua praça preferida, via a folhas caírem, os casais passarem, as crianças sorrirem. Ela tentou se lembrar de coisas banais, mas nada fazia sentido.
Agora tinha certeza seu amor, não passou de um mito.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O (des) encontro

Ela acordou animada, aquele dia teria muitas coisas a fazer e principalmente teria um encontro muito importante.
A dia transcorreu tranquilo, conseguiu cumprir todas as coisas que tinha proposto, conseguiu completar coisas inconclusas.
Era chegada a hora de se arrumar para o grande encontro.
Arrumou-se e foi ao local marcado.
Esperou.
Cansou.
Partiu.
Tudo o que poderia ter acontecido, simplesmente não aconteceu.
Dormiu.
Sonhou.
Não acordou.
Ela tinha encontrado o que sempre esperou.